ARTIGOS
Porque nos comprometemos em criar e ampliar as vozes de mulheres angolanas e em Angola sobre o feminismo, e em escrever e analisar por nós e para nós mesmas sobre os vários assuntos que afectam as nossas vidas, aqui publicamos textos originais de análise e reflexão produzidos por membras ou colaboradoras do Ondjango Feminista.
POR LEOPOLDINA FEKAYAMÃLE
Toda a jornada de activismo social em prol de uma causa, não importa qual seja, muitas vezes requer das pessoas que se propõem a passar por ela, retirar do seu tempo e espaço para dedicar atenção em largos momentos da sua vida à causa que defendem. O processo de constante consciencialização na jornada de activismo é um dos mais importantes pois, citando a feminista e filósofa Djamila Ribeiro, “ninguém pode querer legitimidade para falar sobre o que ignora e desconhece”.
POR LEOPOLDINA FEKAYAMÃLE
Não podemos continuar a invisibilizar a violência contra as mulheres com discursos de que “toda a violência importa” ou “homens também são violentados” ou ainda “mulheres estão a se fazer de vitimas”. Mulheres têm sofrido por longos períodos de tempo por conta dessa invisibilização e justificação de que seus corpos podem ser feridos, maltratados, violentados e mortos. Tudo porque são vistas como sujeitos secundários que devem ser dominados. Chega!
POR PAULA SEBASTIÃO
Essa vivência solidária que nos obriga a pensar nas nossas diferenças é um exercício que começa com uma análise de quem deixamos ocupar esse espaço, como ocupamos esse espaço e como nos comunicamos nele. Se no espaço feminista deixarmos entrar todxs as mulheres, se na nossa agenda incluirmos, de facto, assuntos de todxs as mulheres e se realmente dermos voz a todxs as mulheres, talvez tenhamos hipótese de caminhar em direcção a um espaço de solidariedade real.
POR ISABEL GAVIÃO
Aqui estamos nós manas.
Entre o aroma e o sabor doce de um chá de caxinde;
Entre a nebulosa linha de um fumo de cigarro;
Entre gargalhadas sonoras e pujantes;
Entre canções que energizam os nossos corpos;
Entre conversas que aceleram os nossos corações,
E debates que provocam clics na nossa mente;
Aqui estamos nós manas.
POR CECÍLIA QUITOMBE
Estamos perante uma geração de feministas que são desafiadas diariamente com o enfrentamento do machismo, muitas vezes reproduzido pela família, colegas da escola, amigos de infância, colegas de trabalho, e outros grupos próximos. Mas esta geração, sabe bem o que quer, reconhece bem as artimanhas do sistema, por isso, cria consensos quando possível e desliga-se quando necessário.
POR LEOPOLDINA FEKAYAMÃLE
Até quando teremos de viver assim? Sem voz e a auto-anularmo-nos? Até quando se vai educar e exigir das mulheres que se sacrifiquem, que se anulem, que sejam sugadas enquanto os outros constroem suas vidas e bem-estar em cima do seu sacrifício?
POR CECÍLIA QUITOMBE
Infelizmente, o sistema patriarcal ainda submete a mulher ao exercício de dupla jornada de trabalho, ou seja, a mulher profissional e a mulher “cuidadora do lar” (cuidar dos filhos, cuidar do marido, cozinhar, lavar, etc.).
Por Luzolo Feliz (Luz Feliz)
Para uma menina até que és inteligente
E és bonitinha
Então não sejas problemática
Evita falar de coisas que complicam a nossa sorte
e só atraem morte
Xé menina, não fala política
POR FLORITA TELO
O desafio presente é não cometer o mesmo erro da geração pós independência, e este movimento reconhece que a mudança que se pretende para Angola, não será possível sem a emancipação da mulher, por isso, é preciso que haja igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.
POR LEOPOLDINA FEKAYAMÃLE
Tudo o que desejo é que as mulheres que perderam o amor-próprio o resgatem; aquelas que o construíram com base em odiar outras o reconstruam de formas diferentes e em paz.
As mulheres tiveram um papel determinante durante e depois da construção dos sistemas de retenção de águas pluviais, nomeadamente na participação da identificação do espaço; na mobilização de outras mulheres para a participação no processo; na limpeza do local de construção dos sistemas; na participação no trabalho de preparação da alimentação das membras e membros envolvidos no processo de escavação do buraco e construção; etc.
Por Cássia Clemente
Refletir sobre identidades, privilégios e igualdade nem sempre é uma tarefa fácil. Afinal, desempenhamos vários papéis sociais, comportamos crenças e valores que incidem na construção da nossa identidade. Quanto aos privilégios, a primeira dificuldade reside em entender: O que são privilégios? Quem são os privilegiados? Em seguida, abordá-los pode parecer uma afronta, sobretudo em uma sociedade manifestamente desigual. Entretanto, este constituiu um dos grandes desafios do FAOFEM 2018.
Por Leopoldina Fekayamale
”Realizamos a 3ª edição do Fórum Anual do Colectivo Ondjango Feminista nos passados dias 30 de Junho e 1 de Julho, e passados três anos atrevo-me a dizer que estamos a construir um caminho, sim: um caminho!”
POR ÂUREA MOUZINHO
As autarquias são tanto uma causa feminista quanto a luta contra a violência baseada no género. Advogar para que elas sejam feitas de forma justa e transparente, é também parte de assegurar que os direitos das mulheres sejam respeitados, pois, como sabemos, os direitos são indivisíveis e inalienáveis.
POR LEOPOLDINA FEKAYAMÃLE
Normalmente, vai-se buscar essas meninas no interior do país, nos locais a que comummente e de forma preconceituosa chamamos de “mato”. Muitas mulheres, várias vezes, com as justificativas de dar novas oportunidades a essas meninas, como a de estudar, afastam-nas dos pais, trazem-nas para a “cidade”.
POR GRETEL MARÍN
O que aconteceria com uma sociedade se uma grande parte dela tivesse de ser surda, cega e muda para sobreviver?!
POR CECÍLIA KITOMBE
A construção da paz social passa também pela criação de espaços e cidades acessíveis para todos e todas com segurança, onde, por exemplo, as mulheres possam aceder aos espaços públicos, erguer as suas vozes sem medo do assédio, retaliação ou estupro, pelo simples facto de serem mulheres; onde o direito à vida, ao respeito e à integridade física não se questionem por constituírem os valores da paz.
O Livro da Paz não nos conta só a alegria das mulheres por já não terem de ouvir as armas, conta-nos também, de formas explícitas e implícitas, sobre as inúmeras injustiças do ponto de vista político, económico e social que várias mulheres passaram durante as épocas pré-paz e pós-paz.
"Eu já era feminista quando me juntei ao Ondjango. Eu já era contra o racismo, contra a exclusão social, contra a xenofobia, a homofobia, a transfobia e até contra o especismo. Também já sabia que todas as injustiças sociais do mundo andam juntas, como se um cordão as unisse em silêncio, sorrateiro e mesquinho. O exercício que me faltava era olhar para mim mesma. E esse exercício é tudo."
Não poder decidir sobre o próprio corpo implica não poder dizer NÃO a situações que põem em risco a saúde e, em muitos casos, a vida das mulheres. O respeito à vida do qual tanto se fala quando o assunto, por exemplo, é o aborto não serve também para as mães? O nosso respeito à vida precisa prever e criar contextos nos quais as mulheres tenham liberdade e autonomia sobre si mesmas e possam tomar as decisões que forem necessárias para se auto preservarem física e emocionalmente, sem pressões externas.
Percebo que há uma ideia distorcida e generalizada sobre o que é ser feminista. Parece-me que não há objectividade na reflexão em torno da frase "“sou pelos direitos das mulheres, mas não sou feminista”, que possibilite diálogos construtivos com vista a reforçar a compreensão da ideologia feminista no nosso contexto.
A falta de retrocesso na matéria da despenalização do aborto não representa um avanço, e será nas margens das excepções que mulheres e meninas, principalmente as mais pobres, continuarão a sofrer e a morrer por conta de abortos inseguros e clandestinos.
As recentes indicações, conforme a Constituição, para o Conselho da República, órgão colegial de natureza consultiva do Presidente da República tem uma mulher num total de 21 membros. O que significa, reflecte ou esconde esta disparidade gritante em termos de representação feminina nos principais cargos de gestão do Estado angolano?
O União Nova Geração do Mar, em meio aos ritmos, reforçou a certeza de que falar importa sim e por isso não nos calaremos! E mesmo quando as palavras já não vierem de nós ainda assim continuarão fortes, pois uma vez lançadas estas espalham-se.
A Jurista Katila Pinto de Andrade foi a convidada da primeira edição de 2018 do programa “Vamos Falar”, no passado dia 7 de fevereiro, cujo tema foi a corrupção, num momento em que os Estados Africanos reunidos em Cimeira acordaram que a vencer a luta contra a corrupção é o caminho sustentável para a transformação de Africa.
A repetida falta de cumprimento destes compromissos inclina-me a concluir que a inclusão das mulheres nos lugares de decisão, bem como o seu desenvolvimento, está apenas taxada no plano da formalização enquanto obrigatoriedade política, embora no campo prático falte a interiorização destes processos como sendo urgentes e necessários para o desenvolvimento social do País.
Contudo, não são elas, as mulheres estudantes, que controlam o seu tempo de estudo. Devido à existência de uma cultura patriarcal que tende a “superproteger” a mulher de problemas que advêm dessa mesma cultura, as mulheres são protegidas por homens, de homens em vários espaços, incluindo na escola.
Nos finais de Maio de 2017 saímos à rua e demos início a um inquérito sobre Assédio Sexual nos Espaços Públicos na província da Huíla, no município do Lubango, dirigido somente às mulheres. Publicamos aqui os resultados do inquérito e uma breve análise dos mesmos.
Se a escolha realmente fosse intrínseca à sua natureza, nenhuma mulher se desviaria do grupo. Mas como este não é o caso, conclui-se que existe de facto toda uma pré-adaptação para essas escolhas. Ou seja, trata-se de um ciclo vicioso que começa desde cedo com a estimulação à inclinação para determinados afazeres, e não outros.